É um conselho velho e sabido que em épocas de vacas magras é recomendável aos long-only funds (fundos que atuam somente no lado da compra) se refugiar nas ações defensivas, sendo as do setor staples uma das melhores opções dessa estratégia.
É um argumento que faz sentido porque os alimentos, bebidas, fumo e remédios são os últimos da lista dos itens a serem cortados. No entanto, a diferença entre o plausível e verdadeiro pode ser a mesma entre o prejuízo e o lucro. É mandatório sempre matar a cobra e mostrar o pau.
Fonte: KB – Figura 1
A tese não é difícil de ser comprovada, pelo menos nos últimos 8 anos, período em que nos defrontamos com 2 bears, um que se manteve vivo entre março de 2000 até outubro de 2002 e outro, esse com quem estamos convivendo desde outubro de 2007.
Tendo como base 100 em janeiro de 2000, 2 meses antes do aparecimento do 1° bear, o gráfico mensal acima mostra que o desempenho relativo do setor staples em relação às demais ações de fato foi melhor nos períodos de vacas magras.
Acompanhar o desempenho relativo das ações do setor staples é uma forma mais efetiva de monitorar a postura média dos gestores e dos investidores, se agressiva ou cautelosa, do que através de pesquisas do tipo da Barron´s.
O que se observa no gráfico acima é a revelação de uma postura nitidamente defensiva dos players do mercado, típica de épocas em que impera uma baixa confiança em relação às perspectivas da economia e, conseqüentemente, ao mercado de ações. Caso você note uma mudança desse quadro abandone a postura cautelosa e siga o ritmo, sob pena de ser castigado pelo hábito (habits die hard).
Vale, portanto, a pena acompanhar esse setor de perto. Porém, o seu monitoramento é muito mais importante do que se imagina. O consumo das famílias nos EUA representou em setembro 70,6% do Pib, participação que vem subindo desde o final da década de 60 quando esse percentual atingiu apenas 62,2%. É o que mostra gráfico trimestral abaixo.
Fonte: Fed/ KB – Figura 2
A recessão americana no começo da década somente foi amena devido basicamente ao aumento da participação do consumo das famílias no Pib que, por sua vez, foi possível devido ao surgimento da bolha no mercado imobiliário.
John Mauldin não cansa de reproduzir em sua newsletter semanal o gráfico trimestral abaixo que mostra a importância do refinanciamento das casas na década em curso. Ele mostra o quanto teria sido a taxa de crescimento da economia com (barra cor azul) e sem (barra cor vermelha) as rendas obtidas pelos refinanciamentos dos imóveis. É a prova cabal do motivo pela qual a recessão em 2001 foi suave, tipo soft landing.
Fonte: John Mauldin – Figura 3
Uma escalada no volume de refinanciamento nos EUA somente foi possível com o incessante aumento nos preços dos imóveis. Tendo adquirido o imóvel por um preço inferior, mesmo que financiado, a constante valorização da garantia hipotecária permitiu ao proprietário voltar ao banco e solicitar um financiamento adicional, cujo recurso era sempre destinado ao consumo. Sem o refinanciamento a história teria sido muito diferente no início da década e, como todo castelo de areia, a brincadeira terminou com os fortes vendos de proa.
Não há nenhum item para substituir o consumo salvo uma política fiscal muito frouxa ou um Dólar muito fraco que possibilite um forte aumento da balança comercial, claro que às custas dos demais países. Como o Tesouro está engolindo empresas de portes significativos, a 1ª opção é limitada. Resta a opção do Dólar, no entanto, essa moeda está no momento indo na direção oposta à sugerida por uma das soluções. Por esse motivo é difícil entender a capa da Barron´s, comentada recentemente nesse espaço.
Voltando aos staples que é o foco da conversa. Tudo que foi escrito acima sobre o consumo não foi fruto de uma digressão sem propósito. Observe o gráfico mensal abaixo que compara a evolução da taxa real de crescimento do consumo, a curva na cor preta, que inclui bens duráveis e não duráveis, e o comportamento relativo das ações do setor staples, a curva na cor verde e que foi obtida por regressão linear.
Fonte: Fed / KB – Figura 4
Bingo! Correlação negativa de -76% desde janeiro de 1999 até setembro de 2008. Portanto, enquanto o setor dos staples continuar sustentando um desempenho relativo superior ao da maioria das ações é sinal de que a taxa real do consumo total das famílias ou é declinante ou é negativa, de qualquer modo é péssimo para a economia.
Uma técnica que eu venho utilizando bastante é, no lugar de olhar divergências técnicas entre a tendência dos preços e os indicadores sobejamente acompanhados do tipo Macd e Força Relativa (IFR), alguns dos mais populares, eu tenho preferido observar atentamente eventuais divergências diárias entre os preços e a curva verde no gráfico da figura 4 acima, entre outras.
Da mesma forma que existe esse indicador macroeconômico, há uma constelação de outros indicadores que prestam a esse tipo de análise.
Hoje foi divulgado o importante ISM Serviços, equivalente ao PMI do setor industrial, e que não foi nada bom, abaixo das expectativas. O setor dos staples permanece com um desempenho melhor do que o das demais ações, evidência negativa demonstrada nesse texto, os spreads High Yields (junk bonds) continuam em má forma, os leading indicators não perderam ainda momentum na queda e, finalmente, os volumes não foram robustos na mais recente reação, exceto no 1° dia que foi um DCA.
De bom mesmo, tivemos somente a recente capitulação dos investidores individuais, que é um dado que recomenda dosar nesse momento o pessimismo em relação ao médio prazo, da gradativa redução da Ted spread e o fato do mercado ser um mecanismo mean reversal (tendência dos preços de retornar às suas médias móveis mais lentas) e cuja corda está bastante esticada.
Find me on Tweeter! @FactFin18623431
Há 3 anos
Um comentário:
tem mais:
mesmo looonge de pensar em DCB - nem tamanho nem volume para isso tem o candle de hoje (que só a cigana saberia dizer se prepara a cama para um amanhã) - surgiram divergências negativas, pelo rebate nas zonas overboughts, em vários mercados bursateis importantes, justamente num dos indicadores citados por vc, o RSI (no meu caso, o tio Willy) e esta é uma indicação que sempre respeitei, para somar no meu rústico laboratório rural surreal, onde uso o transferidor justamente para medir a incidência dos ângulos das Div.
e daí, somam ou não?
xiiii... KBou de dar no Bloomberg (II) confira a hora... o lulla, o próprio, fazendo mais uma declaração fantàsticamente diplomática... foi, mais ou menos, tipo assim: "esperamos que o novo presidente dos EUA volte os olhos para a nossa querida América Latina, pra gente não ter que se aproximar do Oriente Médio"... espero que seja ilusão auditiva minha, k-7!..
vou desligar esta merda.
( ).
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