segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O Forte Estímulo Fiscal na China

A China anunciou nesse final de semana um plano de estímulo fiscal nos próximos 2 anos de U$ 586 bilhões (fonte Bloomberg), equivalente a cerca de 20% do Pib do país, que é em torno de U$ 3,2 trilhões (fonte: Banco Mundial em 2006 acrescido de 10% aa).

Pena que nosso país, campeão em carga fiscal, já pratica uma política de estímulos fiscais via um atrasado assistencialismo e que não deixa sobrar bala nenhuma na agulha, mas não é esse o caso da China que no último ano acumulou um forte superávit fiscal e a dívida federal é perfeitamente manobrável (alguém acredita nos dados manipulados pelo partidão chinês?).

Como não ficou claro o quanto desses 10% anuais são gastos adicionais, vou ficar por ora com a projeção de um economista sediado em Hong Kong que afirmou através da Bloomberg que essa medida deverá gerar um crescimento adicional de +2 pontos percentuais no Pib chinês. Não me pareceu muita coisa e julguei tímida essa projeção, na hipótese dos gastos serem adicionais, ou seja, além do que o governo chinês vem normalmente gastando.

Me parece então apropriado verificar a dimensão do plano chinês no âmbito global, apesar da minha dúvida em relação ao real significado desses gastos, se adicionais ou não.

O Pib mundial é cerca de U$ 52 trilhões (fonte: Banco Mundial em 2006 acrescido de 4,5% aa) e os EUA, Japão e Europa cujas economias representam 60% do total, já estão em recessão. A economia chinesa representa cerca de 6% a 6,5% do Pib mundial, portanto, os gastos anunciados para os próximos 2 anos representam um pouco mais de 0,5 ponto percentual no Pib mundial em cada ano. Para uma economia mundial que tem crescido entre 4% a 5% ao ano, 0,5% aa ajudará bem, mas não será a tábua de salvação, pois a taxa mundial poderá despencar para 1% aa segundo eu já li, caso nada fosse feito.

Os EUA, que já não tem a mesma quantidade de bala na agulha quanto a China, pois sua dívida bruta já explodiu, também deverão anunciar estímulos fiscais adicionais de cerca de U$ 200 bilhões no próximo ano, equivalentes a 0,4% do Pib mundial. Se os gastos do governo chinês forem adicionais, juntamente com os EUA, representarão quase 1 ponto percentual de crescimento global, capaz de evitar uma recessão mundial, julgo eu, ou pelo menos atenuá-la de maneira nada desprezível.

Mas e se o buraco for mais embaixo? O problema é que estamos navegando em mares desconhecidos e a volatilidade das expectativas é enorme. Enquanto os indicadores antecedentes (leading indicators) não começarem a se estabilizar, hipóteses mais pessimistas de crescimento continuarão encontrando terras férteis.

Quem conhece contabilidade sabe que se no longo prazo o montante da redução das dívidas, item que fica no lado direito do balanço, será brutal, a redução no lado esquerdo do balanço, correspondente aos ativos, também será no mesmo montante, via preço e quantidade.

Nos EUA o deleverage (redução da dívida) será de no mínimo U$ 20 trilhões - é a 2ª vez que menciono esse mesmo número que foi baseado em cálculos - nos próximos anos. Se a perspectiva no longo prazo não é nada confortante, até lá nada garante que estaremos vivos, portanto vamos por ora nos preocupar com o médio prazo.

Os volumes foram robustos na reação mais recente do Ibovespa, conforme já comentei e eu suspeito que uma das razões foi a atuação de insiders em relação à medida chinesa. Mas essa discussão é estéril, não jogará nenhuma luz e o fato é que, por algum motivo, os volumes foram elevados.

Em geral quando os volumes são fortes há no mínimo uma nova visita ao pico atingido na reação mais recente de um mercado, no caso do Ibovespa os 41 K. Eu cheguei a aceitar essa hipótese em "A Linha Maginot do Ibovespa", porém por desconhecer qual seria o trigger para uma nova reação eu comentei que não havia a menor garantia. Com as medidas na China essa probabilidade aumentou.

No momento em que eu escrevo a reação nos mercados de ações asiáticos e de commodities big caps, petróleo e cobre, é de entusiasmo. Estamos diante de um ponto de reversão, pelo menos de médio prazo? (no longo prazo eu já externei a minha opinião de ceticismo)

Eu tenho uma opinião a respeito sobre o médio prazo, mas de que adianta expô-la se amanhã eu posso mudá-la? A maneira mais prática e menos prejudicial aos nossos bolsos é deixar o mercado nos dizer.

Se durante a semana os volumes permanecerem medianos durante a reação, a volatilidade implícita das opções caírem abaixo do meu modelo e o otimismo retornar entre os weak hands, que nem chegaram a ficar pessimistas, eu diria que a congestão atual é um pattern de continuidade do movimento de baixa, ou seja, que o Ibovespa visitaria novamente os 29,4 K que foi a sua mínima no ano, ou muito perto. Caso contrário estaríamos diante de uma reversão.

3 comentários:

PAULO CÉSAR PEREIRA disse...

KB,

Não seriam US$ 586 bilhões?

Seagull disse...

Certamente! São quase 600 bilhões...

Foi um erro de digitação que fica claro quando ele se refere ao estímulo como sendo 20% do PIB chinês de 3,2 TRI.

Abs ^v^

KB disse...

Onde vcs leram trilhões? :))

lapso corrigido.
é que eu estava com vontade de corrigir o mundo :)

KB