Os dados macroeconômicos divulgados mais recentemente têm sido acompanhados por expressões do tipo “o pior desde x anos atrás e muitas vezes desde décadas atrás ou em toda a história do indicador”. O dado semanal sobre jobless claims divulgado ontem não fugiu à rotina, tendo sido o pior nos últimos 16,5 anos, mais precisamente desde a última semana de julho de 1992.
As dificuldades no arranjo político para o socorro da indústria automobilística norte-americana têm recentemente arrancado os cabelos dos investidores e credores, e não sem razão segundo alguns dados divulgados ontem pelo J.P. Morgan.
Mais de 10% dos junk bonds (high yields) foram emitidos pelas empresas do setor e um eventual colapso adicionaria pressões adicionais sobre os bancos. Coincidência ou não, o preço do seguro contra default (CDS) dos títulos emitidos pelo Citigroup, que oscilava paripassu com o do UBS, atingiu ontem um pouco mais de 380 pontos, contra 164 pontos do UBS, e somente foi superado pelo Morgan Stanley e American Express.
As empresas do setor automobilístico respondem por um pouco mais de 10% dos anúncios de propaganda, geram empregos diretamente em suas fábricas e indiretamente em uma vasta rede de fornecedores e de revendedores que pode chegar a 3 milhões de pessoas, equivalente em torno de 2% do nonfarm payroll, além de ser as maiores consumidores de aço, alumínio, cobre, plásticos, borracha e chips eletrônicos produzidos nos EUA.
Pesquisa recente revelou que 80% dos consumidores não comprariam veículos de empresas que recorrerem à proteção do chapter 11, que é um conjunto de leis e procedimentos com o objetivo de reorganizar financeiramente empresas insolventes.
Alguns indicadores do pregão de ontem, dia em que o breakout do caixote foi finalmente confirmado, estão resumidos no quadro abaixo e comparados com os registrados em 10 de outubro, dia em que a formação do caixote teve início e quando foram assinalados os piores indicadores no ano da carteira do SPX.
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Fonte: KB
O volume financeiro e normalizado registrado ontem, quinta-feira, foi o 7° maior da história da carteira, 90,6% dos papéis fecharam o dia em downtrend mode (não confundir com o percentual dos papéis que caíram, menos o dos que subiram), 76,6% dos papéis registraram novas mínimas nos últimos 20 pregões e 69,8% nos últimos 60 pregões.
Para completar o retrato do dia, em média os papéis da carteira se situaram em 5% do intervalo entre as respectivas máximas e mínimas nos últimos 20 pregões (R HL 20), percentual que revela elevado grau de participação dos papéis na tendência. A fuga para dos investidores para os títulos T Bills de 3 meses derrubou a taxa para 0,03% aa, setores que representam 96% da capitalização total da carteira acompanharam o SPX no breakout (67,6% no dia anterior), os títulos high yields registraram o pior desempenho no ano e o Vix esteve 45% acima do meu modelo.
Uma consideração a parte sobre o sentimento bastante pessimista entre os traders de opções, cuja nota atingiu ontem 9,3 (nota entre 0, extremo otimismo, e 10, extremo pessimismo), bem superior aos 7,3 em 10 de outubro (quanto maior a nota mais bullish na ótica de um contrarian).
Embora o aumento do pessimismo entre os traders seja um aviso aos bears para não serem mais tão complacentes, esse perigo somente se materializaria caso entre em conflito com o price action, evidência inexistente até o momento.
Em resumo, os indicadores relativos ao pregão de ontem foram superlativos em termos de deterioração e, apesar de não terem superado os assinalados em 10 de outubro, no meu julgamento chancelaram o breakout.
No entanto, como a sanção sempre caberá ao mercado, a máxima intradia do DCB de ontem no SPX, que se situou em 821 pontos, passou a ser a fronteira entre o céu e o inferno, podendo servir como o 1° ponto de um trailing stop para os que se atreveram na venda.
4 comentários:
KB,
acompanho seus posts desde outros sitios. Outro dia fuçando meus antigos arquivos encontrei um post seu de 2001 muito interessante!
Nele você analisava o grande bear iniciado em 2000. Sugerindo que o bear de 2002 a out 2002 (mesmo publicado em 2001, você tinha como palpite para o final do bear set/out 2002 BINGO!) seria uma GRANDE ONDA A. Terminada esta onda, seguiria uma GRANDE ONDA B que você acreditava que teria duração de 12 a 24 meses em que o otimismo voltaria com toda força.
E o BEAR seria finalizado numa GRANDE ONDA C em que você apontava que os riscos geopoliticos se acentuariam dramaticamente e com possíveis ameaças ao sistema bancário (Bingo de novo!)
A duração do grande Bear seria da Grande onda A a onda C = 7 a 10 anos.
RAZÕES DESSA LONGA DURAÇÃO
(a) critério histórico: os grandes BEARS geralmente duram cerca da metade do GRANDE BULL precedente que durou 18 anos (desde 1982 até 2000);
(b) tempo suficiente para PURGAR todo o EXCESSO de endividamento, alavancagem financeira e maus investimentos no mundo a fora
E olha que interessante as condições que vocÊ colocou para identificar o final da ONDA C;
III - CONDIÇÕES IDEAIS PARA IDENTIFICAR O FINAL DA GRANDE ONDA “C”
1) Baixa performance do mercado nos últimos anos, capaz de gerar uma capa nas principais revistas especializadas em finanças semelhante à famosa da Business Week em agosto de 1982;
2) Declínio das fusões e aquisições;
3) Histórico de lucros fracos das corporações;
4) Pouca participação das pessoas físicas e estrangeiros;
5) Resgate de fundos pelas pessoas físicas durante meses e talvez anos;
6) Recomendação de ações no portfólio ideal pelos estrategistas de WS abaixo de 50%;
7) Grande pessimismo entre os advisers
8) Drástica diminuição das vendas pelos insiders;
9) Elevado percentual de cash nos fundos mútuos;
10) Preços nos níveis MUITO ABAIXO da média histórica.
Você acredita que podemos estar dentro desse possível MOSAICO ?
Na verdade o BEAR de 2000 nunca terminou ? APenas a Onda B que durou um pouco mais do que o normal ?
Abs!
Richard
ERRATA
Bear de 2000 a out 2002 e não 2002 a out 2002.
Richard:
vez ou outra, quando e se autorizado pelo autor, pinço um coment aqui e o penduro no meu poste ali fora.
aguardo sua autorização para publicar êste seu (já inserida no texto a devida "correção" de 2.000).
( ) aguia.
Richard
Foi como mergulhar no túnel
do tempo :)
O novo mosaico está bem amadurecido, mas prefiro esperar um pouco mais para divulgá-lo.
Mas dessa vez serei mais reservado.
Deixe o teu email que daqui algum tempo eu comentarei esse post.
Abs
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