sábado, 6 de setembro de 2008

If it walks like a bear and if it smells like a bear, it must be a bear market

O mercado havia superado o trauma causado pela crise do México que estourou em dezembro de 1994 e que levou o índice Bovespa a um cliff diving de U$ 6,6 K para U$ 2,4 K - tamanha era a inflação que media-se a pontuação do índice em dólares - em março de 1995. Foi necessário um pouco mais de um ano para o índice retornar ao ponto de partida, lá por volta de julho de 1996. O breakout dos U$ 6,6 K aconteceu em janeiro de 1997. Tem um ditado que diz “as January goes, so goes the year” e 1997 prometia, afinal ingressou naquele ano cantando pneu. A propósito, esse é mais um daqueles ditados que quando você resolve aplicá-lo, o mercado lhe lembrará da impiedosa lei de Murphy.

Quase que por encanto, o mercado despertou no começo de 1997 o interesse do público, afinal o bull market já estava bem velhinho e é quando ele se torna charmoso para os intrépidos noviços. Tem gente muito cínica que jura que as tendências são feitas pelos perdedores e às vezes eu lhes dou razão. Notícias davam conta de que U$ 100 milhões eram despejados pelos retail investors diariamente. Nomes famosos, que eu respeito e que por isso não serão citados - quem nunca deu uma escorregada no mercado? -, afirmavam que a bolsa era muito “técnica” e havia até programas de rádio que educavam os novos investidores. Não estou inventando e é isso mesmo, tinha gente graúda que jurava que a bolsa era “técnica”. Você consegue imaginar o que significa uma bolsa “técnica”?

A revista Veja não deixou por menos e deu um enorme empurrão com a edição de 18 de junho de 1997 sob o título altamente estimulativo “As Ações Fazem a Festa”. Procurem no busca do google sob o título “as ações fazem a festa – veja” e terão uma pequena amostra do que foi publicado. Vocês irão se surpreender com a figura que aparece numa das fotos. Se o nosso mercado fosse do tamanho do de Wall Street eu diria que essa capa rivalizou com a da Business Week sob o título “The Death of the Stock Market” que foi às bancas 1 ano antes do bull market nascido no começo da década de 80 e que terminou no estouro da bolha dotcom. A diferença foi que uma acertou o topo e a outra o vale do mercado.

Encurtando a história, pois nem cheguei aos dias de hoje: o crash começou em 10 de julho de 1997 e mais uma vez as pessoas físicas construíram a ponte de saída para muita gente grande. Após um ano e meio o índice Bovespa perdeu dois terços de seu valor em dólares. O ponto onde eu quero chegar é que foram necessários 6 anos de bull market, intercalados por enormes sustos diga-se de passagem, para que os noviços se aventurassem no mercado de ações.

Os defensores da tese compra-e-segure, ou buy-and-holders nunca tiveram tantos discípulos. O problema desses caras que apregoam essa tese, que se bem aplicada revela-se um ótimo conselho, é que nunca irão lhe dizer quando é para vender. Um amigo mais experiente do que eu em operações bursáteis sempre me disse que ganha-se na bolsa quem sabe vender.

Chegamos em 2007. Em agosto daquele ano o nosso mercado superou o tranco da quebra de um fundo do Bear Stearns, não sem a ajuda do Helicopter Ben que anunciou para a surpresa geral um corte na taxa básica muito acima do esperado. Esses caras do Fed acreditam piamente que eliminaram os ciclos econômicos, mas eles nunca me irão convencer e eu tenho a plena convicção que a História será a minha amiga.

Até outubro de 2007 os retail investors foram sistematicamente vendedores líquidos nas operações em bolsa de valores. Parece que são necessários entre 5 a 6 anos para que as sardinhas, termo cunhado nos fóruns que serve para identificar os noviços, sejam capturadas pelos tubarões. Da mesma forma como ocorreu na década anterior, por alguma razão essa turma resolveu a despejar enormes somas de dinheiro diretamente na bolsa (aplicações em fundo excluídas) a partir de novembro de 2007 até atingir um recorde absoluto na década em junho de 2008.

Essa turma nunca sentiu o cheiro de um bear. Se um mercado cai durante 3 meses sem uma reação igual à retração mínima de Fibonnaci (23,6%), não reage à condição extremely oversold, não respeita suportes, não dá a mínima a rumores sobre aumento de preços do minério de ferro, quando sobe o faz com baixo volume e quando cai o número de negócios se expande, cara pálida, isso é um bear market!

Os noviços têm um padrão em bolsa: somente atuam em panic mode, quer sejam no panic buying ou no panic selling. Finalmente cheguei ao bottom line: essa turma ainda não retirou um tostão do que aplicaram nos últimos meses no trading direto. Não serão os ensinamentos dos professores de cursos, que juram que bolsa é para o longo prazo, que conseguirão segurar a peteca. Podem anotar, esse mercado somente irá encontrar um fundo comprável quando os retail investors jogarem a toalha.

3 comentários:

Anônimo disse...

considero absolutamente abrangente seu comentário sôbre as telas que desenha, e documenta, sôbre longas páginas históricas do Mercado de Ações; muito ao gôsto de quem, como eu, se preocupa com análises retrospectivas e até as usa como parâmentros parciais para tentar entender os humores, nunca confiaveis, dêste apaixonante nicho do Mercado Financeiro.

Para mim, quase tão emocionante quanto assistir àquelas partidas decisivas de um embate esportivo, como o nosso brasileiríssimo futebol; especialmente, se jogando o time da gente, onde o coração bate tanto quanto quando se está Comprado num ativo de alto risco, pelo menos no meu caso que sendo mineiro, torço para o Cruzeiro.

Desejo sucesso ao Blog e parabens pelo novo espaço.

KB disse...

Você foi perfeito em escolher esse time!

Anônimo disse...

Muito bom artigo,
abraços,
l fernando