quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Ping Pong entre o Samuel e o KB

Extraída da seção de comentários

Samuel

KB, de que maneira esses socorros punitivos se dariam nas instituições combalidas? E como eles seriam feitos?

Nos bastidores, se ensaia um resgate estilo S&L, com o governo abrindo uma agência para comprar TODOS os títulos que estiverem podres. Acho que esse deverá ser o próximo passo.

O problema é que a S&L foi resolvida com duas centenas de bilhões, a atual é de um tamanho inimaginável. E não está isolada nos bancos, vide recente compra da AIG pelo FED, e lobby semelhante por parte da Ford e GM. Aliás, as grandes empreas, praticamente todas as majors, ampliaram de modo absurdo os seus braços financials, estava mais lucrativo financiar do que fabricar.

E com 500 trilhões em derivativos no sistema, acho difícil que haja uma saída que não provoque movimento tectônicos, seja ela envolvendo resgate público ou não.

KB

Os banqueiros irão se safar dessa com muito dinheiro ainda no bolso. Um ou outro se tornará um bode espiatório para satisfazer o cidadão comum.

As condições punitivas estão sendo aplicadas somente aos acionistas. Até onde eu sei somente os credores da Lehman Brothers se lascaram, os demais receberam em dia.

Samuel

Que os banqueiros vão sair ilesos (mais uma vez) eu não tenho a menor dúvida.

Aliás, vão sair até mais fortalecidos, visto que vão deixar as perdas com o contribuinte, enquanto aproveitam para consolidar ainda mais as próprias posses. É só analisar o caso do FED, que comprou a AIG com dólares que ele mesmo imprime.

Só não entendi bem como a idéia de socorrer as instituições combalidas possa ser feito nesse momento, sem implicações severas no déficit americano e no dólar.

Irão precisar de captações ou de monetizações monstruosas para retirar toda a podridão do sistema. De um jeito ou de outro, não vejo como não virar um MEGAPLUFT.

KB

Na crise de Hong Kong o governo daquele país comprou um terço da bolsa no pânico durante a crise asiática na década de 90. E vendeu com um baita lucro anos mais tarde. Compra em pânico tem elevadas chances de dar certo se for o governo (strong hand) o comprador e se a crise não for doméstica.

No caso do Tesouro americano eu já não tenho tanta certeza se o contribuinte terá de volta parte da grana que ele irá bancar, pois o epicentro da crise se encontra lá. Crise bancária nunca custou menos do que 8% do Pib que, no caso dos EUA, significaria U$ 1,1 trilhão. Para mim esse é o número por baixo. Me lembro que em um país da Ásia a conta chegou a 25% do Pib, mas se me lembro bem foi a conta mais pesado na história.

Isso é déficit fiscal cuja conseqüência será o aumento da dívida federal se não houver aumento dos impostos, e nesse caso restaria a saída do financiamento via colocações de títulos (conseqüência seria o aumento nos juros), sendo o mais provável uma combinação dessas 2 possibilidades. Há o risco dos EUA perderem um Azinho do AAA de seu rating, o que seria um baque para aquele país, para o Dólar e para os mercados globais, mas penso que a queda no rating do Tesouro americano somente iria acontecer se a conta superasse os 15%, pois o endividamento federal dos EUA suporta os 8% sem perda do rating.

Vi esses números recentemente e li algo a respeito, somente não irei citar os números, pois a memória irá falhar e eles não serão exatos.

De qualquer modo, o sistema financeiro não será mais o mesmo. Haverá um backlash político e engessarão o sistema financeiro, com o risco do pêndulo pender para o lado oposto. Regulamentação em excesso é ruim para a economia, mas eles aprenderam (nós já sabíamos) que sem nenhuma é até pior.

As conseqüências sobre o mundo real das economias globais estão ainda para acontecer, mesmo que realmente seja orquestrado o socorro generalizado por parte do governo. A queda no multiplicador bancário fará o estrago.

Eu cunhei uma expressão: tenha opinião, mas duvide dela. É o meu caso. Essa é a minha avaliação, mas não dou um tostão por ela.

5 comentários:

Anônimo disse...

calma feras: ainda vai dar muito samba.

velho filme e já falam em 1.929... BUT, os mecanismos paliativos de hoje siquer existiam àquela época e os BCs do mundo inteiro estão de mãozinhas dadas, juras e juras, na alegria e na tristeza, etc... claro que quem paga as contas no fim das ditas somos nós.

êste Ping-Pong, de alto nivel, eu já tinha lido em coments... li de novo...

quanto ao The End pago 15 pilas... cash.

Samuel Ramos disse...

Excelente explicação, meu caro KB.

Só tenho divergências quanto ao valor do bailout, pois dessa vez não se trata apenas do setor bancário.

O PIB americano está alavancado em crédito mais de 4 para 1, creio que esse resgate vai custar tranquilo mais de US$ 2 trilhões.

Quanto às conseqüências, concordo plenamente e faço o adendo de que está para ser visto se irão conseguir captar tamanha emissão no mercado (a que juros), ou se vão precisar ligar a impressora.

Sds e obrigado pela aula.
Samuel

Seagull disse...

Pessoal,

Que turma da pesada vcs reuniram aqui para tratar deste momento ímpar do mercado(talvez se procurarmos podemos encontrar alguns "pares"...)

Felizmente acompanho sempre as chamadas para as postagens do Fact e do Samuel - o que quase todo me leva a visitar o blog dos amigos!

Agora, chego aqui e me deparo com o KB, como o próprio diz -um sobrevivente do mercado. Então somos 2!

Lembro do King Bear, que depois da inversão adotou a assinatura atual, "simply" KB. Foi melhor do que mudar para King Bull, uma vez que na bolsa nunca devemos estar em nenhum "team", mas jogar conforme cada "trend". ;-)

Então tudo vem se concretizando... a federalização da dívida. Com que dinheiro? Mesmo tendo os EUA uma legítima "fábrica de moedas" (sem lastro?) eles rasgaram todas as cartilhas do liberalismo capitalista e "estatizaram" a economia.

Senhores dos credores e endividados...

Devo não pago, nego enquanto puder!

Mas alguém vai arcar com esta conta. Dizem inclusive que o estado do Bush vai mudar de nome: de Texas para "Taxes"!

E que ninguém salve o contribuinte americano, mas a saúde da águia (não do prezado colaborador) combalida e resistente a assumir seus equívocos.

Grenspan deve estar a "morrer de rir"... vendo seu sucessor penando para descascar o abacaxi sem sentar na banana.

O urso está nú. Como o trocadilho que fiz certa vez, e um amigo tomou como nick: BearNaked

E vamos seguir a maré se esta reverter novamente.

Ibovespa aos 45k terá feito seu fundo derradeiro? Ao menos passamos a fase do Halloween Indicator

http://www.monitorinvestimentos.com.br/ver_artigo.php?id_artigo=18&pg=7

Quem vendeu em maio e foi "passear" pode começar a pensar em recompor sua carteira!

Bem, apesar de muito tempo (vivo) no mercado, no que diz respeito a vocês quero continuar sendo um aprendiz!

Desculpe tomar tanto espaço nos comentários, mas foi realmente uma grata surpresa ver esta "galera" reunida.

Abs a todos ^v^

PS disregard eventuais erros de digitação/ortografia. Este reduzido campo não é o ideal para redigir, e pelo que já gastei dos dedos neste improviso vou poupar na revisão do que foi escrito.

Anônimo disse...

O aguia está certo ... ainda vai dar muito samba.

Tem chão pela frente ... melhor dizendo ... faltará chão pela frente.

Apenas não vai em linha reta para nenhum dos lados, porque isto também não interessa a ninguém.

Samuel Ramos disse...

Pô, não sabia que o KB era o King B, lembro de ler há muuuito tempo atrás textos dele no site do Bastter. Muito bons, por sinal.

Sobre o pingue-pongue, fui pesquisar uns dados e coloquei no blog agora a pouco.

Vou reproduzir aqui um trecho, se me permite:

"(...) apenas o banco JP Morgan detém uma posição de US$ 89 trilhões em derivativos, sendo US$ 8 trilhões deles diretamente ligados ao sistema de crédito.

O conjunto final mostra um quadro ainda mais assustador, no qual podemos perceber que os 25 maiores bancos americanos possuem bens (assets) avaliados em US$ 7 trilhões, ao mesmo tempo em que carregam posições de derivativos de US$ 179 trilhões, sendo US$ 16 trilhões do tipo over-the-counter (OTC) ligados ao setor de crédito"

$16 tri só nos 25 maiores bancos, e só em otc de crédito, número maior que o PIB americano.

Claro que nem todos devem entrar em default, mas se colocarmos uns 10% disso aí, já faz estrago.

Quanto mais desse lixo tóxico está nos livros de empresas (financials e non financials) que se aventuraram no setor de crédito, tais como GM, Ford, GE?

Acho que nunca descobriremos...