terça-feira, 23 de setembro de 2008

Não Dependa de Fontes Poluídas

Quando eu comecei a me envolver de maneira mais intensa no mercado de ações, colocando em risco o meu patrimônio, eu sofria da síndrome da falta de informações. Não conseguia encontrar uma fonte que pudesse solucionar todas as minhas dúvidas, e o pior, a cada dia elas brotavam aos borbotões. É uma coisa maluca e doentia. Sem mencionar as conseqüências danosas à sua saúde e sobre a convivência com os seus entes mais queridos.

Confesso que está muito difícil acompanhar os desdobramentos dessa crise. Eu que já trabalhei no coração de alguns bancos brasileiros e, apesar de distante há algum tempo, entendo como essa engrenagem funciona, porém eu não imaginava o quanto eu era ignorante em relação aos meandros do sistema financeiro norte-americano. Aliás, em todas as crises que eu vivenciei no passado aconteceu a mesma coisa, ou seja, a descoberta de quanto eu sou ignorante. É nas crises que surgem os esqueletos escondidos de nós, mortais.

Só tem um jeito de você sobreviver nesse turbilhão de notícias. Em primeiro lugar aceitar a idéia de conviver com a incerteza. Em segundo lugar, se apoiar em indicadores antecedentes e terceiro, se apoiar em muitos indicadores antecedentes, pois alguns deles podem em um determinado momento apresentar um viés. Além disso, ficar de olho também em alguns indicadores coincidentes e, finalmente, compreender como funcionam os instrumentos econômicos.

Outro dia eu mencionei que a autoridade monetária chinesa, por ter reduzido a taxa de juros, piscou e acusou o golpe. Essa hipótese está ainda para ser confirmada. Os indicadores PMI Industrial (leading indicator) da China a serem divulgados nos próximos 2 meses, sempre no 1° dia útil, irão ou não confirmar a minha assertiva. Eu os divulgarei nesse espaço nesses dias. Afirmei isso por conhecer como funcionam os bancos centrais.

Por não ter acesso às estatísticas chinesas, além de não confiar em nada no que dizem as autoridades de regimes autoritários, vou me escudar nos dados da economia norte-americana para ilustrar sobre como se libertar da síndrome da falta de informaçãoes. Aliás, convém mencionar que tampouco nas autoridades de regimes democráticos deve-se depositar confiança.


Fonte: Federal Reserve, KB - Figura 1

O gráfico mensal acima, desde janeiro de 1988, mais de 20 anos de história, mostra na cor preta a taxa de crescimento dos lucros nos últimos 12 meses da carteira do SPX e a linha vermelha o gradiente da taxa básica dos juros nos EUA. A correlação nesses últimos 20 anos foi de +73%, positiva, ou seja, o banco central aumenta a taxa de juros quando os lucros são crescentes e diminuem quando decrescentes. A escala na vertical se refere à taxa anual do crescimento dos lucros nos últimos 12 meses, não se referindo aos dados da curva vermelha que foi obtida por regressão linear para o encaixe das 2 curvas.

A curva vermelha, ou seja, o gradiente dos fed funds, a taxa básica, foi plotada até o mês de setembro de 2008 e a curva preta até dezembro de 2009, resultado das projeções dos analistas. O gradiente da taxa básica não é um leading indicator, ou seja, não é um indicador antecedente, mas tão somente coincidente. No entanto, como há alguns indicadores que permitem ter uma boa noção sobre os próximos passos do Fed, além do que existe um mercado futuro dos fed funds, pode-se projetar a curva vermelha no futuro, exercício que não foi feito na figura acima.

A curva do gradiente dos fed funds é um exemplo, mesmo sendo um indicador coincidente em relação aos lucros, de como extrair uma informação objetiva e sem viés, que lhe ajudará a perceber muito antes da maioria (e mesmo dos ditos experts) a mudança na direção dos ventos. Não é necessário ler pilhas de relatórios para perceber a razão da decisão do banco central chinês, e lá se foi a síndrome da falta de informações. A informação, no caso a decisão do banco central chinês, ocupou poucas linhas nos jornais, porém poucos conseguiram extrair o seu verdadeiro conteúdo, tampouco os editores das publicações.

A figura 1 ajuda a entender o motivo pelo qual a China reduziu a taxa de juros, e a resposta está no fato de que o ambiente econômico se deteriorou. Leitor, esse foi o primeiro aumento da taxa de juros depois de um longo período de aperto monetário, portanto, podemos estar assistindo a um turning point na economia chinesa. A intensidade de uma eventual mudança dos ventos por lá ainda está para ser mensurada, porém eu sei que um terço daquela economia é voltada para o comércio exterior.

No afã de gerar um clima positivo eu tenho lido em relatórios da banca internacional que esse movimento do banco central chinês terá conseqüências positivas no futuro. É óbvio que sim, pois chegará um momento em que não mais será necessário baixar a taxa porque a economia começaria a andar pelas próprias pernas. Porém, enquanto o banco central não mudar a rota da política monetária, a sinalização não é boa, como querem ensinar esses relatórios.

Quer dizer que taxa de juros em alta sempre será bom para os lucros e, conseqüentemente para o mercado de ações? Um retumbante não. Há um limite que se for atingido, e sempre será, as condições se tornam restritivas e danosas aos lucros. Isso ocorre quando a taxa de juros supera o nível suportável pelas empresas.

Há um critério extremamente simples para identificar a proximidade desse momento que, juntamente com outros leading indicators e o price action do mercado de ações, podem aprimorar o timing da sua identificação. Um dia, quando for pertinente, voltaremos a esse assunto.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sr. KB

Na China, se me permite a observaçao que nao eh absolutamente um reparo e apenas um adendo; pelo menos por enquanto, a preocupaçao oficial daquele forte e duro regime governamental de força; esta mais centrada nos insistentes e inequivocos sinais de desaquecimento daquela gigantesca economia, dai a prioridade no enfoque dos juros e sua queda em tese oxigenante, cuja eficacia, se a contaminação global atual permitir, talvez ainda se revele e isto sim, poderia ser um sopro revigorante nos atuais doentios ares globais.

Bem diferente, se ainda me concede venia, eh a dupla de afliçoes macro que ocorrem nos EUA, hoje na dualidade de uma possivel estagflaçao e onde a estagnaçao deveria ceder lugar a nivel de prioridade estrategica, junto aos orgaos de controle; principalmente o FED; o Tezouro e o FED de NY; ao inimigo maior que eh a inflaçao porque esta, mais veloz alem de voraz, ja esta a mostra e se nao freada e ou administrada a juros mais altos, podera tornar-se incontrolavel.

Ocorre que entre a cruz e a espada, os administradores que zelam, ou deveriam zelar pela economia de nosso vizinho do norte, estao sendo obrigados, infelizmente ou compulsoriamente; se nao por inercia e espanto frente a esta crise que ao dizer de alguns se assemelha a de 29, porem talvez mais pelas recentes mostras iniciais de fragilidade em algumas instituiçoes financeiras, diretas e ou de repasses, principalmente no famigerado caso das casas a tempos previsivel; a baixar juros ate o atual patamar negativo frente aa expectativa de inflação, ja com mediçoes superiores a Taxa; escolha esta que podera ser condenada pela historia, ja que somando-se a tudo isto da-se equivoca guarida ao consequente e irremediavel velho remedio lamentavel de emitir moeda; sempre um tiro certeiro, se bem pela culatra ou no pe.

A somar e jah em mometos emergenciais diminuindo, ainda ao contrario da China que toma medidas quais forem, com poder ditatorial, mesmo que espada de dois gumes em questoes politicas, muitas vezes ariete eficiente nas economicas; nos EUA, feliz ou infelizmente, ate medidas emergenciais inadiaveis como as recentes anunciadas, ja morosamente frustrantes, dependem da boa ou ma vontade, ou, na duvida, do lento engessamento, no Congresso.

Nao que aprove ditaduras que as abomino, mas para apagar incendios ja adiantados, nao da para esperar a fogosa mulher do motorista do carro de bombeiros dar permissao ao cara para vestir as calças, vento la fora alimentando o fogo do outro incendio, antes dele acabar outro tipo de serviço em que ele na verdade nem eh la essas coisas para apagar o especialissimo tipo de fogo que se iniciou com a Criação sob uma arvore frutifera chamada macieira.


Saudaçoes e desculpe a ousadia.