quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Índice Bovespa sem Energia, Materiais e Bancos

Os setores de energia (petróleo basicamente) e materiais (siderurgia e mineração) sofrem enormes influências do cenário externo e o setor bancário, faça sol ou faça chuva em nosso país, nos últimos anos sempre apresentou um ROE bem acima de 20% aa. No momento atual esses setores representam quase 60% da carteira do índice Bovespa. Por isso eu não recomendo empregar o índice Bovespa como um leading indicator da nossa economia.

Para eu ter uma idéia do que se passa nas empresas voltadas ao mercado interno, eu excluo os setores acima do índice Bovespa, mas tomando o cuidado de manter as participações dos papéis na carteira do índice.

Ao fazer esse exercício eu estarei tendo uma idéia do comportamento das ações dos setores de alimentação, elétrico, telefonia, aviação, bebidas, fumo, embalagens, setor imobiliário e açúcar e álcool.

A figura abaixo mostra como teria sido o comportamento diário desde o início de 2006 do índice Bovespa sem os setores de energia, materiais e bancos.


Fonte: Bovespa, KB – Figura 1

Há duas coisas interessantes que me chamam a atenção no gráfico acima. Em primeiro lugar esse índice não registrou novas máximas no mês de maio de 2008, mesmo com a euforia após a concessão do investment grade pelas agências de classificação de crédito. Foi quando o índice da figura acima tentou sem sucesso superar pela 3ª vez o seu pico histórico, ponto identificado pela reta cinza clara no corpo da figura.

Os investidores mais experientes haviam notado há muito tempo a enorme dependência do índice Bovespa em relação aos desempenhos das ações da Petrobrás, Vale e siderúrgicas, não sendo essa uma observação que cause algum espanto. Um dos sintomas da exaustão de uma tendência de alta é a crescente seletividade no movimento. Sintomas de vulnerabilidade do mercado começaram a surgir a partir de outubro de 2007 quando foi assinalado um topo duplo no índice da figura 1.

No topo assinalado no começo do ano de 2000, idêntico fenômeno aconteceu com o setor de telecomunicações que representava à época cerca de 50% da carteira. Esse setor sustentou o índice até março de 2000, a partir de quando foi dado início a um feroz bear market com duração de 2 anos, comportamento que serviu para iludir milhares de noviços que estavam entrando no mercado, atraídos pelo excelente desempenho do mercado de ações desde o início da década passada. Mark Twain afirmava que a História sempre se repete, mas em ritmos diferentes.

A segunda observação se refere ao comportamento intrigante desse índice, que não é de conhecimento público. Em geral, somente índices muito acompanhados, particularmente aqueles sobre os quais se lançam opções ou índices futuros, é que apresentam um comportamento como o apresentado na figura 1.

Observem os padrões. O índice na figura 1 desenhou um topo triplo com precisão suíça, coisa pouco comum e somente observado em índices muito monitorados, pois são pontos onde o mercado é sempre testado por um exército de traders de curto prazo. Se o mercado é bom, o índice recua nesses pontos para depois ganhar força e empreender um breakout. Se o mercado é ruim ele soçobra diante das pressões.

O índice da figura 1 construiu um fundo triplo em agosto de 2007, janeiro e julho de 2008, que somente veio a ser rompido no mês de agosto, porém antes disso tentou um novo pull back. Outro comportamento típico de um índice sobre o qual se lançam contratos futuros. Além disso, o breakout do fundo triplo aconteceu com uma força notável, como se nesse ponto grandes players foram obrigados a acionarem estopes institucionais.

Se o índice da figura 1 mantiver semelhante comportamento, o próximo suporte, donde poderá emergir uma reação aproveitável, seria o fundo assinalado em setembro de 2007, que se situa cerca de 17% abaixo dos níveis atuais. Seriam ainda prejuízos consideráveis para as posições compradas, mas por outro lado revelaria que há chances de que uma boa parte das perdas já teriam sido absorvidas. No entanto, dada a gravidade da crise bancária, nem de longe eu insinuo que do fundo em setembro de 2006 poderia emergir um tão sonhado bull market.

A base de dados desse índice remonta a setembro de 2003, portanto é pequena. No entanto, como o mercado é uma máquina de desconto de eventos e em se tratando de um índice composto por ações voltadas ao mercado interno, o seu comportamento se alinha aos últimos dados do PMI Industrial do Brasil que aponta para uma visível desaceleração da atividade econômica.

Um comentário:

Anônimo disse...

Lembrei-me agora que certa vez você me sugeriu a montagem e acompanhamento de um índice que refletisse exclusivamente o comportamento interno da economia.

Interessante abordagem.