As dívidas das famílias, das empresas e dos governos estaduais e federal dos EUA há alguns anos superaram a casa dos 300% do Pib norte-americano, nível que nem em 1929 foi atingido. O relaxamento dos critérios de concessões de créditos, sob os olhares cúmplices das autoridades monetárias, e a política monetária assimétrica do Fed resultaram em pilhas de créditos tóxicos. Para piorar a situação em muitos casos as garantias continuam perdendo valor como no caso dos bens imobiliários.
A assimetria da política monetária do Fed chegou a tal ponto que a expansão econômica desde a última recessão, no início da década em curso, foi uma das únicas, senão a única na história daquele país, que não partiu de um ponto em que havia superávit em transações correntes.
Eu julgo que as medidas recentemente adotadas, quais sejam as estatizações da Fannie Mãe e Freddie Mac, que aumentaram o endividamento público bruto federal em 40% do Pib (o endividamento líquido dependerá do grau tóxico dos ativos das 2 GSEs) e a criação da entidade anunciada nesse final de semana, foram no caminho certo, embora por motivos errados. Os USA se transformaram em USSA. Porém, se não fossem adotadas tais medidas haveria uma implosão do sistema financeiro mundial. O que aconteceu até o momento foi a transferência da dívida de um setor bancário debilitado para o governo federal, o menos endividado entre todos os agentes e com mais capacidade (ainda) de financiamento. Isso não fez parte do processo de delevarage a que estou me referindo.
O endividamento bateu no teto, pois atingiu um nível em que o menor default corrói todo o capital próprio da instituição financeira e uma pequena redução do preço do ativo imobiliário faz com que muitas famílias apresentem equity negativo.
Teve início o processo de desalavancagem que consistirá no enxugamento particularmente dos balanços das famílias e do setor privado e que levará anos para ser concluído. Japão, que enfrentou esse mesmo processo, está há duas décadas em estagdeflação por não ter cortado na carne logo de cara. Não se espera que a América seja tão lenta assim, porém os japoneses puderam se dar a esse luxo. O Japão contava com uma poupança interna em torno de 15% do Pib quando o processo teve início. Atualmente gira em torno de 6% do Pib.
A América, pelo contrário, terá que enfrentar essa tarefa a partir de um ponto em que a poupança interna inexiste. Terá que gerá-la internamente via redução do consumo que representa 20% do Pib global. Caso contrário o déficit atual em transações correntes iria explodir e o mundo rejeitaria de vez o Dólar. E é ai que a porca irá torcer o rabo.
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Há 3 anos
3 comentários:
Eu continuo achando que esse plano, do jeito que foi proposto, é estúpido e só serve para os amigo$ do Paul$on (novidade).
A única coisa a que ele se propõe é a tentar colocar um 'fundo' artificial nos ASSets problemáticos.
Porém, se o Tesouro não pagar um prêmio alto no lixão, os bancos não vão vender.
Sobretudo quando as linhas especiais do FED (TAF, TSLF, PDCF), junto com as regras de contabilidade (Tier 2 e 3) permitem que eles continuem mantendo os livros em ordem, mesmo que não estejam.
Na minha opinião a melhor saída para a bronca era dissolver o FED e acabar com o fractional lending, afinal foram essas duas coisas que causaram o problema orginal.
E se o custo disso fosse $ 700 bi, ia sair barato para a sociedade.
Mas logicamente que isso não vai acontecer. Pelo contrário.
Paul$on e Bernanke estão aproveitando o pânico para ganhar mais poder e mais recursos.
Samuel
1-Quando a porca torce o rabo eles vendem sim. A Merrill Lynch vendeu antes de ser adquirida uma carteira com PU de 22%. Quem comprou provavelmente irá ganhar dinheiro.
2-Afinal qual a tua solução para o problema? Se você recomenda eliminar o Fed quem iria dar liquidez ao sistema como atualmente se faz nas operações de open market? (em 1929 uma das causas do desastre fo o empoçamento da liquidez bncária) Quem seria o lender of last resort?
Se a tua resposta for o mercado, seria a mesma coisa que deixar o galinheiro por conta da raposa. Se for o retorno ao padrão ouro, os ciclos não seriam mais recessão- crescimento, mas sim depressão-crescimento.
3-A raiz do problema esteve na política assimétrica do Fed e na ausência de regulamentação que permitiu a alavancagem de hedge funds e private equities ao extremo, o surgimento das structured investment vehicle (SIV), entidades paralelas fora do balanço dos bancos supervisionados pelo Fed, e por ai a fora.
De qualquer modo, o sistema será sempre instável, pois a estabilidade conduz à instabilidade. É da natureza do ser humano (dai o ditado habits die hard). Qualquer trader com um pouquinho de rodagem nem precisou ler Minsky para saber disso.
KB
KB,
1. Quando aperta eles vendem, mas com os swaps do FED e as atuais regras de contabilidade, estão podendo optar por não vender a mercado e trocar com Bernanke pelo menos uma boa parte do lixão. Esse mês, só em mbs, o FED swapou mais de 300 bi, sendo a metade rolagem;
2. Eu não visualizo uma solução que não termine em:
a) uma depressão deflacionária
b) uma depressão hiperinflacionária
Diante do volume de crédito no sistema, não consegui achar uma saída até agora.
Mas achei uma boa idéia a do Mish, de retirar impostos em depósitos de certificados bancários, poupança e treasurys como meio de incentivar o saving e re-capitalizar os bancos dessa forma.
O fluxo de crédito, sem o FED, poderia ser feito como era antes: se tem poupança na economia, empresta, se não tem, salva. O jeito old school é o melhor meio de prevenir excesso de crédito e taxas de juros negativas na economia, como fizeram os burrocratas Paulson, Greenspan e Bernanke.
Não acho que o livre mercado seja tão raposa cuidando do galinheiro quanto os banqueiros, muito pelo contrário.
3. FED e SEC não só fecharam os olhos, como autorizaram o excesso de alavancagem. Então, só por isso teríamos motivos mais do que suficientes para dissolver a ambos, ou pelo menos demitir todos os que estiveram envolvidos nessas instituições nos últimos anos.
Mas não, agora o FED se acha no direito de querer resolver a situação. Ano passado mesmo o paspalho do Bernanke dizia que a crise era contida, que as perdas iam chegar a 100 bilhões se muito, e mal se passou um ano e estamos nós dois aqui debatendo um cheque em branco de 700 bilhões para o Paul$on repassar aos amigos.
No más, eu concordo.
E como não sou trader, não li Minsky, logo não posso opinar.
hehehe
Sds!
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