sábado, 27 de setembro de 2008

Bailout da America

Um dos mais astutos analistas com visão global, o suíço gestor de fundos Marc Faber, estabelecido em Hong Kong, esteve bullish em relação às commodities até há pouco tempo e a partir de então mudou de idéia. As commodities big caps, depois de registrarem um pico histórico em julho desse ano, mergulharam ladeira abaixo desde então. Esse novo acerto reforçou a fama de Marc Faber, que apareceu nos holofotes em 1987 quando previu o crash na bolsa americana com excelente timing.

Segundo ele U$ 700 bilhões é nada perto dos U$ 5 trilhões necessários para salvar o sistema financeiro americano. Sabendo que esse suíço tem uma rusga em relação ao Tio Sam, tanto é que saiu de Wall Street e foi parar em HK, eu fui fazer as minhas contas, preliminares diga-se de passagem, para checar se não tem ai um exagero.

Segundo Martin Wolf, fonte confiável para dados macroeconômicos dos EUA, a dívida total americana entre famílias, setor privado e público era de 346% em 2007 (290% em 1929). Dois setores foram os principais responsáveis, famílias com endividamento de 100% e o setor financeiro com 116% do Pib, números de 2007.

O Pib dos EUA relativo ao 2° trimestre de 2008, cuja 3ª revisão foi divulgada nessa sexta-feira, foi de U$ 14,3 trilhões e a alavancagem do sistema financeiro é aproximadamente 30 vezes o patrimônio. Para se ter uma idéia, no Brasil a alavancagem é pouco mais de 10 vezes devido à volatilidade de nossa economia e aos juros elevados que restringe o crédito.

Suponhamos que o sistema financeiro americano diminua a alavancagem para 20 vezes, número que me parece bem razoável. Isso equivale a reduzir a sua participação no Pib para 77% (116x20/30) através de uma redução da alavancagem em U$ 5,5 trilhões (116%-77% aplicados sobre U$ 14,3 trilhões). Ops, chegamos perto do número do suíço, mas para mim a conta não termina ai.

As empresas Fannie Mae e Freddie Mac já foram absorvidas, tendo o Tesouro engolido U$ 6 trilhões em obrigações, sendo U$ 3 trilhões em títulos de emissão das 2 GSEs e o restante em co-obrigações, até onde eu sei. Restariam então U$ 2,5 trilhões ($5,5 menos $3) para a alavancagem ser reduzida para 77% do Pib. Tem ainda a absorçao da AIG, mas cujos números eu não encontrei de pronto.

Devido aos deságios dos títulos emitidos pelo setor financeiro negociados atualmente no mercado, a conta seria inferior aos U$ 2,5 trilhões. Tem ainda os U$ 700 bilhões relativos ao plano proposto pelo Tesouro (cujos detalhes eu desconheço sendo que a premissa é que deverá reduzir a alavancagem), que deverá ser aprovado, senão a casa poderá ruir. Restaria U$ 1,8 trilhão no máximo ($2,5 menos os $0,7), sem considerar os deságios, mas que ainda é muito dinheiro.

Há a possibilidade de novas capitalizações através de fundos soberanos, private equities, Warren Buffetts da vida e o público (o bem mais rico, claro), além da geração de caixa do próprio sistema. Por ora, eu chutaria necessidades adicionais de U$ 1,5 trilhão, que em boa parte poderia ser resolvida através de uma gradual redução das operações ativas e, consequentemente das operações passivas (deleverage). De qualquer maneira, o próprio processo de deleverage em si, conforme eu já comentei dias atrás, mesmo que restrito a U$ 1,5 trilhão ou cerca de 10% do Pib, justificaria mais downside para os preços das ações.

Ou os meus números estão totalmente furados ou Marc Faber (já li que tem outro cara falando em número semelhante) chutou muito alto. Se o suíço estiver correto, o gap nos yields que o Fact afirmou que seria fechado, talvez fosse na próxima década, rs. Aliás, me esqueci de mencionar outra previsão de Marc Faber que afirmou existir somente mais uma bolha a ser furada, a dos yields (bolha na cotação dos Treasuries que segue sempre a direção contrária à dos yields). Ou seja, segundo Faber os juros só tem um caminho a seguir, a direção norte.

Se Marc Faber estiver correto, e torçam contra ele, a América terá, e eu falo seriamente, que ser objeto de um bailout pela China, Japão, demais asiáticos e com uma mãozinha dos europeus. Como a grana não sairia de graça afinal there is no free lunch, os EUA teriam que ficar de joelhos. Mas ficariam? De maneira alguma, não sem antes chegar perto do abismo, senão não haveria justificativa política e a humilhação seria injustificável perante a opinião pública. Nessa hipótese eu nem imagino a profundidade do buraco em que o nosso Bovespa se meteria.

Qualquer que seja o número, há ainda o enorme problema do endividamento das famílias que não foi contemplado pelo plano de Paulson e, por isso, corretamente criticado por Roubini. Se é para ajudar Wall Street que ajude também a Main Street, ora bolas.

3 comentários:

Anônimo disse...

Mestre KB:

talvez o buraco, depois de tirado o tapume, seja até mais embaixo... sei não... alavancaram D++++... já finquei um poste about.

tenho informação de que já há mutuários gringos recebendo cheque ao portador a domicílio para pagar a prestação do domicílio.

( ) ão.

Anônimo disse...

e tem mais...

êsse negócio de trilhões, já tá é superado.

e mudando uma estrofe dos Reis Roberto e Erasmo no "daqui pra frente, tuuudo vai ser difereeente":

"a dora avante, só vou falar de quaaatrilhões...

quá.

Anônimo disse...

http://www.google.com/search?q=economiccycleresearchinstitute&rls=com.microsoft:pt-br:IE-SearchBox&ie=UTF-8&oe=UTF-8&sourceid=ie7&rlz=1I7SUNA

...abra êste Google e veja,
na QUARTA referência sôbre
o ECRI, um tradinginblog e
um certo KB 'literalmente'

... são 15 pilas... tá?...