quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Paralelos

Não sou especialista em 1929, mas sou fascinado pela História. Ben Bernanke é e fará de tudo para não cometer os mesmos erros.

Mas já cometeram! Deixaram o cassino global ir muito longe e o deleverage não será resolvido sem dor.

Tendo como gancho uma discussão na seção “comentários”, vou oferecer o meu julgamento sobre a inflação mundial nos próximos anos e, conseqüentemente, o que poderá alterar sobremaneira um dos principais, senão o principal fator determinante dos Múltiplos das ações no longo prazo (lembre-se da equação: P = M x L).

Parafraseando Joachin Fels do Morgan Stanley, convém antes mencionar que a inflação tem sido sempre um fenômeno mundial e os fatores domésticos os responsáveis por uma maior ou menor absorção da onda global.

Em 29 teve uma condição terrível, que não existe atualmente, que dificultou o combate inicial à contração econômica que foi o padrão-ouro adotado pela Inglaterra a partir de 1925, na época a maior ou a segunda maior economia do mundo (acho que os EUA já haviam galgado o 1° lugar, mas isso não importa), com a libra esterlina fixada em um nível overvalued. O padrão-ouro implica em um engessamento da política monetária, diferentemente da flexibilidade proporcionada pelo fiat money.

A partir dessa condição, um dos grandes erros em 29 foi a ausência de coordenação global. Na época a França e a Alemanha se recusaram a se juntar aos EUA para inflacionar suas economias, pois a Inglaterra estava com as mãos atadas pelo padrão-ouro que implicava em uma rigidez monetária.

Houve também outro grande erro que foi a guerra de preços no comércio internacional. Além disso, as autoridades não foram capazes de evitar as corridas contra os bancos e o empoçamento da liquidez.

As nacionalizações das instituições nos EUA e na Europa têm sido feitas para evitar um desses erros mencionados. Porém, como tem havido uma corrida silenciosa contra os bancos pelo mundo a fora, uma forte contração econômica será inevitável.

A inflação é um lagging indicator e ela ameaçará se transformar em deflação no ano que vem, o pior dos mundos para os devedores. Será quando Ben Bernanke, e possivelmente outros chairmen, irá despejar tudo de seu helicóptero.

No meu julgamento, depois de um período de inflação muito baixa, tangenciando deflação, ou deflação pura e simples, a lógica política mostra que claramente teremos uma forte pressão inflacionária bem lá na frente.

Sendo os Tesouros os grandes devedores e os players mais poderosos entre os agentes econômicos, uma das soluções para resolver os seus problemas será permitir que a inflação galgue alguns degraus acima. Corrói as dívidas, as grandes corporações conseguirão se proteger e a corda irá rebentar como sempre nos pontos mais frágeis. Nós brasileiros somos doutores nisso.

Se, por outro lado, fizerem o mesmo que o Japão em 1994/5, que foi aumentar os impostos para socorrer o caixa do Tesouro, teremos um longo período de muddle through, expressão emprestada de John Mauldin.

A inflação será péssima para as ações, pois é a grande exterminadora dos Múltiplos. Foi por isso que no final da década de 70 e começo da de 80 os Múltiplos do SPX orbitaram entre 6 a 8 vezes, contra os atuais 18 vezes.

Um comentário:

aguia disse...

meu veneravel Mestre KB:

29, foi flórida; caiu muita
laranja; papers voaram by
the windows; lá em WS...

o ouro, tá mais ou menos.

( )s.