quarta-feira, 29 de outubro de 2008

But ...

A figura abaixo mostra 5 quadros. Os 2 gráficos à esquerda o índice Bovespa e mais embaixo o SPX, sendo que na parte superior de cada um dos gráficos as barras dos volumes financeiros normalizados (para expurgar a inflação e a deflação nos preços das ações), sendo que as setas verdes ascendentes são os DCAs.

À direita, de cima para baixo, a média dos preços das ações da carteira do Bovespa em relação aos respectivos valores patrimoniais no final de cada mês, sendo que o dado de outubro refere-se à última sexta-feira.

Mais embaixo o gráfico da média mensal da volatilidade implícita das opções do SPX (Vix) na cor preta e o meu modelo do Vix baseado na cor vermelha (correlação de 91% desde outubro de 2001 - no mês de outubro foram plotados os valores de ontem) e, finalmente, no gráfico mais embaixo, a evolução do spread de uma carteira de títulos HY (junk bonds).


Fonte: Bovespa / Bloomberg / KB

A animação de ontem começou no Japão com a proibição das vendas a descoberto (por que não aumentaram a margem na euforia?), seguido do short squeeze nas ações da VW na Alemanha, que desencadeou um short covering generalizado (zeragem de vendidos a descoberto) e, com os preços em forte alta, veio o esperado argumento de que as ações estão baratas e que as quedas têm sido exageradas.

Faço minhas as palavras de Stephen Jen do Morgan Stanley, em seu relatório de anteontem, onde ele avalia que as opiniões dos analistas, que ainda repetem os refrões “o sell-off nos ativos dos emergentes é injusto em vista dos fundamentos” e “os ativos dos países emergentes já caíram demais para quem ainda não vendeu”, mudarão para “o enredo sobre os emergentes teria ido longe demais?”.

A média dos preços das ações da carteira do índice Bovespa (1° quadro na parte superior à direita) em relação aos respectivos valores patrimoniais está na média entre a mínima registrada em 2002 e a máxima em 2007 e já se pode afirmar que as ações estão baratas? Em um quadro em que se assiste a um dos processos mais violentos de deleverage da The Mother of All Bubbles?! Eu não apostaria nisso.

Entre 10 altas como a de ontem, 9 acontecem em bear markets e 1 no início de um bull market. Uma alta estonteante em que no dia os spreads dos títulos High Yields (junk bonds) mal piscaram e que se mantiveram em níveis recordes, um dos melhores termômetros da saúde de um organismo econômico, em um dia em que a Ted Spread inclusive subiu, quase nada mas subiu, que reflete um empoçamento de liquidez sem precedentes, na presença de um chocante sentimento de neutralidade entre as pessoas físicas que operam opções na ISE, com o mês de outubro pintando ser o 2° mês de maior volume de ingresso financeiro de pessoas físicas via trading direto na Bovespa nessa década, superado apenas por junho, apostar no início de uma reação duradoura é no mínimo uma temeridade.

No entanto, não se deveria descartar a hipótese de uma continuidade na reação iniciada ontem, mesmo que o mercado devolva nessa quarta-feira parte dos ganhos do dia anterior. Ontem, dia 28 de outubro, a carteira do índice Bovespa registrou um robusto DCA, tendo subido 100% dos papéis da carteira. Foi um dia para lavar as almas dos sofridos comprados e mortal para os tardios vendedores a descoberto.

No gráfico na parte superior à esquerda do quadro acima, é mostrado que o extinto bull market terminou quando as bases de um duplo DCA (2 DCAs próximos com bases em níveis próximos) foram violadas (nesse caso o DCA muda de nome para DCA Clímax). Nos últimos 15 anos 75% dos pontos de inflexão (turning points) de um bull market foram registradas violações da base de um DCA, num quadro de elevada seletividade da tendência de alta, como foi o caso do falecido bull market. No restante, foram precedidos por DDs e ou iniciado por DCBs.

Os círculos no gráfico do índice Bovespa mostram os DCAs com bases violadas e os desastres que se seguiram. DCA em um bear market se torna uma espada de Dâmocles, pois se sua base for violada, corra primeiro para depois tentar entender o motivo.

No entanto, o DCA de ontem tem mais chance de ter sido o início de uma reação do mercado com uma duração maior do que temos visto, afinal os preços caíram na vertical e no SPX foram registrados 2 sinais que pelo price action dá alguma credibilidade para essa hipótese, além do fato da volatilidade implícita das opções do SPX (Vix) ter se esticado muito acima do valor chancelado pelo meu modelo, conforme se pode notar no gráfico do meio à direita.

Em primeiro lugar, no dia 27 de outubro, o SPX testou a sua mínima com um volume muito baixo, ou seja, assistimos a um padrão de fundo que é o reteste com baixo volume. Em seguida foi também registrado um DCA na carteira do SPX, embora não tão robusto como foi na Bovespa (em termos relativos).

E é por ai que, pelo exclusivo ângulo do price action, o bicho pode pegar mais adiante, pois frente ao que estamos assistindo seria necessário um DCA arrasa-quarteirão na carteira do SPX, necessário para a reversão desse indomável bear market, mesmo que temporária. Isso não aconteceu.

Além disso, tenho notado que de neutralidade as pessoas físicas na bolsa ISE rapidamente têm vestido a camisa dos bulls, bastando para isso alguns dias de reação.

Não é assim que um sólido fundo é construído.

5 comentários:

Bob disse...

KB, sua explanação bate com uma futura e próxima perna de baixa para completar a onda 3 lá fora
(v.3)

Anônimo disse...

Só deixo esse comentário para agradecer a voces pelo aprendizado que to tendo em ler o blog...

Investidor em pindorama, assistindo Bloomberg e lendo forum ADVN tomei bastante cacetada já...

Ainda bem que encontrei esse blog...

aguia disse...

mestre KB:

é isto aí, cara!

mata a cobra e mostra o pau...

hã... simbólica e figurativamente falando, craro e veneravel sempre, of course e mais 15 pilas pra k, mais course ainda.


PARABENS, K-RÁI.

aguia disse...

ADVFN é um site excelente, gosto muito de abrir suas inúmeras janelas e dos recursos on line que oferece.

BUT, nunca siquer abri o seu forum, pois já encerrei êste tipo de convívio, se bem honroso, a muitos anos.

sou um cara de personalidade muito fragil, absurda e inacreditavelmente inseguro e facil e incrivelmente impressionavel.

culpa e limitações tais, só minhas, course, pois prefiro pensar sòzinho e hoje só converso com quem conheço.

Anônimo disse...

KB,
Quando vc compara o P/VPA do Indice Bovespa de 02 a 08, qual carteira teórica vc utiliza? A de 02 ou a regressão da atual? Pq, querendo ou não, as distribuições setoriais e os multiplos foram alteradosmultiplos são diferentes e podem distorcer a comparação. Pegando a de 2002 e trazendo a VPresente, que grafico teriamos?