domingo, 26 de outubro de 2008

Ainda Muita Complacência

Na semana passada uma conhecida firma de consultoria de investimentos estrangeira concluiu em Nova Iorque um encontro entre pesos pesados da área de gestão de recursos. Como é de praxe nesses encontros uma pesquisa entre os participantes sobre as perspectivas do mercado acionário global foi feita.

Por ser um relatório privado e eu não ter solicitado a permissão pra transcrever o texto na íntegra, eu sou obrigado a omitir o nome da consultoria, os participantes do evento e, obviamente, a credibilidade da informação se perderá bastante. De qualquer maneira segue um resumo dos resultados. Acredite quem quiser.

A maioria dos participantes espera um rali significativo do mercado de ações nos próximos 12 meses. Mesmo os mais pessimistas contam com uma recuperação parcial portentosa. Somente 2% dos participantes esperam que o mercado ainda caia bastante.

Está mais animado depois dessa informação? Eu não estaria.

Eu me lembro como se fosse hoje (ser mais rodado tem essa vantagem), lendo a revista Time no início da década de 90, alguns analistas conclamando os investidores sobre as oportunidades únicas de compra de ações japonesas, devido à enorme queda nos preços (o estouro da bolha começou a partir do 1° útil da década de 90). Já se passaram 18 anos e o Nikkei está a alguns poucos pontos da mínima intradia desse longo inverno.

Estamos assistindo à pior crise desde a Grande Depressão, cujas raízes são as mesmas, excesso de endividamento, diferindo apenas nos remédios ministrados. Mesmo em bear markets ferozes no passado não tão distante, melhores documentados do que o do início do século passado, a maioria dos analistas caçadores de fundos desistiu de descobrir o grande momento das compras nos fundos em 1974 e 1982, esse último o nascedouro de um duradouro bull.

Sentimento semelhante pode-se constatar em nosso meio. A minha percepção é de que o pequeno investidor está seguindo os conselhos de seus formadores de opinião, após ouvir apelos insistentes de numerosos analistas através dos diversos meios de comunicação sobre a oportunidade de ouro para o pequeno investidor.

Um Real gasto na compra de ações nos preços atuais vale muito mais do que o mesmo valor financeiro despendido no pico em maio. Portanto, para evitar tanto a inflação quanto a deflação nos preços das ações eu sempre elimino essas distorções, e o resultado é o que chamo de volume financeiro normalizado.

Adotado esse procedimento, no dia 15 de outubro (Bovespa em 36833 pontos) o volume financeiro normalizado das compras líquidas diretas na bolsa pelo investidor pessoa física foi recorde diário. Nesse mesmo dia a saída dos estrangeiros foi brutal, 35% superior às compras das pessoas físicas.

O último dado conhecido, referente ao dia 22 (Bovespa em 35069 pontos), o volume das compras das pessoas físicas foi bastante expressivo, tendo rivalizado com o recorde mencionado. Pelo andar da carruagem, o mês de outubro caminha para ser o 2° melhor mês da história mais recente em compras líquidas pelas pessoas físicas, somente superado pelo insuperável mês de junho.

O investidor pessoa física que preferiu os fundos mútuos de ações permanece quieto, congelado. Não compra mais, mas não sai.

Eu Já expliquei nesse espaço o motivo pelo qual eu excluo os multimercados (hedge funds) das minhas observações, fundos que têm encolhido devido a resgates monstruosos há muito tempo, mas eu julgo oportuno voltar a esse ponto.

Eu os excluo porque nesses casos a decisão de zerar os prejuízos pela pessoa física é psicologicamente menos dolorida, pois ela tem a desculpa de atribuir a culpa aos gestores, pois em geral não há a obrigatoriedade desses fundos investirem em ações. No caso das operações diretas na bolsa e nas aplicações nos fundos mútuos, a pessoa física somente pode atribuir a culpa a si mesmo.

Um rali aproveitável, que apresente um risco menor nas compras, se a história serve como um bom guia, somente acontecerá depois de assistirmos pelo menos a um mês de forte saída da bolsa pelas pessoas físicas.

Dada a seriedade da crise, eu afirmo, uma opinião sobre o longo prazo, que o bear market somente terminará com a desmoralização dos caçadores de fundo, da mesma forma que o extinto bull market desmoralizou todos os caçadores de topo.

2 comentários:

Fact Finder disse...

A complacência tem pegado carona em 2 "consensos" muito escutados ultimamente:
1.o fim de bear mkts em Outubro (Crash/87 e Bolha Nasdaq); 2. e o year-end rally.

aguia disse...

córz

rsrs