sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Quanto vale uma certeza?

(Em um futuro fundamentalista - leia-se meses/anos - espero retomar a análise aqui levantada. Se eu queimar a língua, deixo bem claro que I did put my money where my mouth is.

Ainda: não recomendo compra, venda ou manutenção de sdia3 ou sdia4. Minha opinião emitida abaixo é sobre o operacional e financeiro da empresa e nunca sobre expectativas futuras de seus valores mobiliários.)

Neste final de 2008, a Sadia foi a primeira empresa a aparecer com um grave problema cambial. Estava com "derivativos exóticos" (vendida em dólar e alavancada) quando a cotação do US$ subiu. Ainda perdeu dinheiro com a quebra do Lehman.

As perdas são bilionárias. Aqui de cabeça, lembro que a perda total deve ficar perto de somar um bilhãozinho no ano. A reputação foi pro saco; o endividamento subiu e caixa teve que ser gasto. E, é claro, a diretoria foi queimada, com o cacique Mr. Furlan voltando a vestir o cocar.

A crucificação que o mercado está impondo à empresa está bem durável. Neste post tentarei analisar a reação da empresa à crise, uma vez instaurada (sem isentar ninguém pela m... feita) . E quem sabe ver uma situação atual.

Vamos lá. Uma vez que o US$ subiu, a empresa reagiu em alguns dias (o que na minha opinião foi até rápido o suficiente). A posição foi quase que imediatamente reduzida no câmbio de então (R$ 1,90). Liquidaram um bom pedaço da posição, o que resultava num prejuízo imediato de R$ 700MM.

O curioso é que isso praticamente já anulava o risco da empresa quebrar.

Daí a ação caiu, e muito. A dúvida era: a Sadia vai quebrar? Vai ser vendida?
Quem tinha dúvidas sobre uma possível quebra já podia encontrar alento no começo de dezembro, quando a empresa reduziu a exposição a níveis "saudáveis". Pagaram o que podiam com caixa e dívida. E ainda mantiveram a liquidez. Durante toda a crise eles mantiveram dinheiro vivo próximo de US$ 1 bilhão.

O fato relevante mostrando o parágrafo acima está aqui.

Então, timeline: em 01.12.2008 o risco de quebra já estava bem mitigado. Curiosamente, a ação não parou de cair, atingindo mínima abaixo de R$ 4,00.

Outra coisa interessante é a reação comercial da empresa. Fizeram caixa com o que podiam. Como? Promoções. Não conheço dona de casa que leve Perdigão ou Batavo, se o produto da Sadia estiver mais barato. Acompanhei atentamente o Wal-Mart durante toda a crise. Fizeram exatamente como fizeram na época da gripe do frango. Quando se é a marca líder, uma boa promoção queima o estoque. Entupiram o brasileiro de nuggets. O balanço do 4T08 deve mostrar essa venda mais alta a preços mais baratos.

Hoje, a empresa ainda está precificada como quebrada.
Um indicador simples é o price/sales. Ela está negociada a 0,28 - 28% das vendas anuais. Um P/VP de 1,2 pra ON (e 0,95 pra PN). E se retornar ao lucro de 2007, um P/L projetado de 4 pra ON, 3 pra PN. Uma comparação com Perdigão (no guiainvest) pode ser bem útil ao leitor.

Lembrando que o US$ alto favorece as vendas externas da empresa, que não reduziu o preço de seus produtos no supermercado mas pode comprar soja mais barata devido à crise.

No título, eu perguntei o valor de uma certeza. Hoje temos a quase virtual certeza de que o balanço de 2008 será péssimo. O 4T2008 confirmará o que falta. O interessante é que sabemos quão péssimo o balanço deve ser. Isso tem o valor de permitir a análise; e cada um que decida o que acha.

2 comentários:

Anônimo disse...

Curtindo outras praias Lafa :)

muito bom o seu post (como sempre)

abraços

Marcus Maia

Anônimo disse...

We estimate Sadia needs a capital infusion of at least R$2bn
In our view, Sadia needs a capital infusion of at least R$2bn, as (1) the service of
its estimated R$8.7bn current gross debt position consumes most of company’s
free cash flow; and (2) company’s current liquidity situation is at risk, in our view,
as the outstanding cash position could dry up by June 2009 should the company
be unable to refinance any of its short-term debt.

Still too risky for shareholders

Sadia remains a BRL/USD call

Revising PO to R$3.7/share. Maintain Underperform

Fonte: BofA / Merrill Lynch de 26/jan/09