É maçante e pode parecer uma insensibilidade, e até parece que basta ficar de olho nas pessoas físicas para saber a hora de entrar na bolsa. Fosse somente isso, todos iriam morar nas ilhas Seychelles. No entanto, dado o volume expressivo de compras registrado por essa categoria nos últimos meses, fato raro e que acontece a cada 10 anos, somente por isso requer acompanhamento e irá servir como um dos sinais, não o único, para uma compra, nem que seja uma perna de um bull dentro da boca de um bear maior.
Fonte: Bovespa / KB
A figura acima mostra as compras líquidas mensais, volume financeiro normalizado, sendo que em outubro o dado é parcial, até o dia 13. Eu lamento por aqueles que decidiram pela compra justamente no final do bull, mas c´est la vie. Se serve de consolo, eu também já cai nessa armadilha no bull causado pelo Najas em 1989 e seus comparsas e da pior maneira possível, em opções de compra que viraram pó, adquiridas 1 mês antes do pico daquele movimento insano. Portanto, quem aqui escreve sabe exatamente a dor de quem está assistindo a esse filme.
Cinco anos de bull market desde 2002 soterraram as lembranças da sofrida fase durante os primeiros 2 anos dessa década e fez com que uma nova geração acreditasse em todas as bobagens que se escreveu sobre o mercado de ações.
Se eu fosse enumerar as barbaridades que eu li, eu dificilmente iria esgotar o assunto. Vamos a algumas. Que não importa o momento de comprar ações, que a economia brasileira era inexpugnável, que a cotação do Dólar muito abaixo de R$ 2,00/ U$ não tinha importância, que a fome por matérias-primas da China era inesgotável (falta esse mito ir para o beleléu), descolamento entre os emergentes, etc, etc.
Particularmente a partir de 2005, todos os analistas tinham na ponta da língua a mesma explicação para o movimento de alta das cotações das commodities metálicas, diga-se de passagem com poucos precedentes na história, e que terminava sempre na China. Ao invés de questionar a alta em si, buscaram e acharam explicações para justificá-lo.
Uma economia com U$ 300 bilhões de Pib crescer a 10% aa é uma coisa, outra bem diferente é uma China com U$ 3 trilhões manter essa taxa de crescimento. Há na China uma boa estória, mas há também uma tremenda bolha de crédito, uma expansão monetária do M2 sem precedentes e que vai terminar muito mal. O timing do estouro eu não sei. Por outro lado eu sei, por ter lido um pouquinho de história, que o surgimento da classe média naquele país poderá criar fortes embaraços ao partidão e que a transição poderá não ser fácil.
A cotação do níquel no seu auge atingiu o absurdo e ridículo nível equivalente a quase 5 vezes o custo de produção, como se o consumidor desse metal não iria tentar substituí-lo, que não se esforçaria a buscar inovações tecnológicas para reduzir a sua utilização e que novos investimentos não seriam atraídos para o setor.
Atualmente o níquel é cotado a seu custo de produção, a metade de quando a Vale adquiriu a canadense Inco e um quinto do pico registrado na 1ª metade de 2007. Eu somente vi uma equipe analistas questionar os preços das metálicas, a do JP Morgan. O restante era todos cheerleaders.
Somente a experiência altera o padrão de comportamento do ser humano. Essa turma que entrou nos últimos meses recebeu uma lavagem cerebral que eu presenciei somente em 1997 (pico históico do índice Bovespa após descontados os juros cdi). Além disso, havia uma turma que sobreviveu ao movimento de baixa no início da década e cuja confinaça aumentou ainda mais. Não havia razões, portanto, para alterar o comportamento e comprar ações virou um negócio sem risco.
A raiz desse bear market é muito mais profunda do que o de 2000/2. Aquele foi devido ao excesso de investimento em tecnologia de informação, um bear com causas cíclicas, esse é devido a uma causa estrutural, o excesso de endividamento, recorde em toda a história da maior economia do mundo.
Essa turma que entrou irá alterar o seu comportamento, a sua postura em relação ao mercado de ações. Irá esquecê-lo por uma eternidade, mas antes disso a maioria irá capitular.
Observar a movimentação dos estrangeiros é importante, e eles não se cansam de vender. Porém quem acha que bastará isso para achar o ponto de compra, saiba que em 1994, os estrangeiros somente acordaram para a compra na metade de um estonteante rali entre o Plano Real e a primeira eleição do FHC.
Logo depois das eleições veio a crise no México que devolveu toda a alta. Um tombo para ficar na memória, uma época em que eu fui novamente um dos patos. Naquele ano de 1994 quem saiu na frente na compra foram os nacionais e quem pagou o pato não foram as pessoas físicas não (exceto eu), foram os estrangeiros. Os estrangeiros também pagam o pato.
Find me on Tweeter! @FactFin18623431
Há 3 anos
3 comentários:
Para o trigger de compra de um dead-cat bounce precisamos também de technicals em área de forte demanda e já tô achando difícil que surja antes dos lows de 2002. Ouch! :)
eu tb suspeito disso, mas como sempre eu prefiro duvidar da minha opinião :)
Então já somos 3 com o mesmo pensamento teórico em andamento.
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