domingo, 2 de maio de 2010

Contas Externas - a história se repete


Na falta de figura melhor, vai esta.

A linha escura representa o BTC (balanço de transações correntes) brasileiro.
O gráfico termina em dez/08. Daí pra frente, continua negativo. Significando?

Não é nada apocalíptico, mas nem por isso deixa de ser sério.

O que entra no nosso BTC?
  • Comércio. Minério, soja, roupas, petróleo, celulares, chips de computador.
  • Serviços "normais": seguros, fretes internacionais, viagens internacionais, uso de softwares, etc.
  • Serviços de fatores: remessas de lucros, juros de dívida.
Dinheiro que entra é contado (+), dinheiro que sai é contado (-). Por isso o longo período positivo até final de 2008 mostra que vendíamos mais que comprávamos.

  • Daí a entrada de dólares que fez a cotação da moeda baixar de cerca de R$3,99 no auge da crise, para R$ 1,50 no auge da bonança.
O longo período positivo mostra um Brasil mais bonito do que é. Na prática,
  1. Nossa balança de COMÉRCIO tem forte potencial para ser positiva, se a cotação da moeda ajudar minimamente (algo como 1 dólar = 2 reais). Ela também gera entradas fortíssimas se o dólar valer mais ainda.
  2. Nossa balança de serviços é naturalmente deficitária. Não temos indústria de fretes marítimos. Não temos grandes seguradoras. Não vendemos muitos serviços ao resto do mundo. Ainda assim, ela "tem salvação" se alguma coisa for investida nestes setores.
  3. Em termos de remessa de lucros e juros de dívida não temos NENHUMA ESPERANÇA de nos tornarmos credores em um futuro próximo. É isso.
Fica a pergunta.
Por quê o dólar continua barato mesmo assim?

Porque nem tudo é transação corrente. Existe também a conta de entrada de capitais. Desde 2008 temos uma entrada forte de
  • Investimento Estrangeiro em Carteira: compra de ações e títulos de dívida. Dinheiro basicamente especulativo, compensando a saída de dólares.
  • Investimento Estrangeiro Direto: investimento físico. Maquinário, estoque, construções. Não tem como ser retirado - mas gera remessa de lucros muito em breve.
Por isso, a pergunta não é se alguma hora vai SAIR mais dólar que ENTRAR.

A pergunta é QUANDO.

Curiosamente, esta exata mesma história foi contada no 2o governo FHC. Sem tirar nem por.
As reservas estão um pouco mais altas hoje, mas nem tão altas assim... e é só.

Isso nos deve servir de alerta para:
  • A continuar assim, alguma hora o dólar vai ter que subir.
  • Ele pode subir até um patamar razoável - algo como R$ 2,00 ou R$ 2,10 - ou um patamar não razoável - como R$ 2,50, 2,60.
  • Se o dólar virar toast antes disso, consideremos um "dólar equivalente" - alguma cesta de moedas externas. Neste caso o dólar pode continuar numa cotação firme enquanto se desvaloriza no resto do mundo, o que é equivalente a uma desvalorização do real.
  • Isso não é notícia ruim. A não ser que você esteja vendido em dólar, é claro. Para a economia, significa sair de uma situação irreal que nos força a comprar demais e a vender de menos e barato.
  • Quanto mais a distorção durar, mais forte sua correção.

6 comentários:

Bob disse...

Resumindo, tudo culpa do FHC, inclusive este descolamento do BOV, a desova em petrobras, tudo culpa dele. Lulla na ONU< viva, hehehe.

Em dez inicei compriminhas em dolar, cadim cada mês, vamos ver.

Lafayette disse...

BOB, eu não tive coragem de comprar US$ porque a situação deles lá também tá salgada. Se eles (EUA) tivessem com as contas em ordem como estavam em 2001, já estava entupido.

Mas sei não, pra mim corre o risco de o US$ perder poder de compra em bens reais e daí...daí eu mifu se tiver comprado dólar.

Prefiri ir de exportadoras. Vale, siderúrgicas, embraer.

Não é um caminho muito seguro também, né, se a bolsa cair ninguém olha pras receitas da companhia, só aperta o "sell".

Seagull disse...

Pois é... o dolar perdedno valor pelo desequilíbrio de contas no US, o euro se desintegrando pelas diferenças culturias e economicas de cada país da comunidade, o yuan baixo, seguro artificialmente para manter os produtos chineses baratos e o ritmo frenético das suas exportações... e aqui... o real apreciado, nossas vendas externas com baixa competitividade.

Ah... mas o Meirelles ficou no BC, e a corrente monetarista está de olho na paridade cambial. E pode intervir à qualquer momento... pesa o aspecto político na reta final da campanha eleitoral.

Portanto... há tempos venho comentando que comprar U$ nessa faixa de 1,70 pode não ser um mau negócio. Mas eu, as IceBob, também vou fazendo a coisa aos poucos, comendo pelas beiradas, diminuindo minha exposição e me defendendo dos riscos maiores com a prosaica diversificação.

Enfim, como tenho comentado (pouco) no Fórum, na hora que a coisa aperta, o fundamentalismo impera. Mas sem esquecer dos gráficos, e os rompimentos de suportes que podem dinamizar vendas generalizadas em ações...

Ufa, para quem participa pouco acho que escrevi demais!

Melhor um "peru de fora" que se manifesta, do que um urubu ousado que se atropela, ou até um pato danado ... que geralmente é quem paga a conta, e se esgoela.

Absssssss

Seagull disse...

Mas tudo isso que eu escrevi são floreios, perto do conteúdo da mensagem do Lafa.

Mestre, permita-me compartilhar mais essa aula no MI.

Tks

aguia disse...

é aula mesmo, fundamental.
excelente issue Mestre Lafa.

se doleta subir gold idem up
quanto a bolseta, áxu que já

passa da hora
de Cair FORA!

arghia

aguia disse...

bolacha quebrada a vista >

quanto a uma consistente lógica de estudar-se, a Dora avante, a conveniência de posicões em ouro porrrrrraqui:

o prêço de gold no market, aqui no peniquinho, digo, tupiniquim, como em qualquer lugar, é cotado em dolar, ófi córzi...

daí que mesmo que lá na Matriz a sua cotação não se altere, já porrrrraqui,

caso dolar deslanche,

ele vai up, juntinho.

áxu